Cenário de um dos anos mais desafiadores para o clima pede mobilização para transformar vulnerabilidade em resiliência

O ano de 2024 será lembrado como mais um marco no agravamento dos impactos climáticos globais. Com perdas financeiras estimadas em US$ 229 bilhões, os desastres naturais não só evidenciaram a fragilidade das nações frente às mudanças climáticas, como também expuseram as profundas desigualdades sociais e econômicas que permeiam o planeta. Os dados, divulgados no relatório anual da Christian Aid, apontam que dois terços dos prejuízos foram causados por enchentes, tempestades, ondas de calor e outros eventos extremos.
No Brasil, as enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul destacam a magnitude do problema em nível nacional. Com 876 mil pessoas diretamente afetadas, 48 municípios decretaram estado de calamidade pública. Famílias perderam suas casas, plantações inteiras foram destruídas e a infraestrutura das cidades sofreu danos severos, demonstrando como a falta de preparação para lidar com tais eventos agrava ainda mais a situação de populações vulneráveis.
No Amazonas, a seca extrema em 2024 chegou a afetar 190 mil famílias, cerca de 862 mil pessoas. Antecipando as perdas causadas pela situação, o governador do estado, Wilson Lima, trabalhou de forma preventiva, alertando o governo federal e seguindo um planejamento de medidas elaborado ainda em 2023 para o enfrentamento das queimadas, desmatamento e dos efeitos ocasionados pelo período de estiagem. Os principais focos do cronograma de atividades da gestão foi o abastecimento de água potável, insumos e medicamentos para a saúde e produção rural; melhorias logísticas para a manutenção do funcionamento da rede estadual de educação, comércio e ajuda humanitária.
Desigualdades ampliadas pelo clima
Os desastres climáticos reforçaram as desigualdades globais em 2024. Enquanto países desenvolvidos, como os Estados Unidos, contabilizam perdas financeiras significativas, as nações em desenvolvimento enfrentam desafios muito maiores. A falta de infraestrutura adequada, sistemas de alerta precoce e políticas públicas voltadas à adaptação climática deixam milhões à mercê das forças da natureza. No Brasil, o impacto das enchentes foi exacerbado pela falta de planejamento urbano, pela ocupação desordenada de áreas de risco e pela insuficiência de redes de drenagem pluvial eficientes.
Para transformar cidades vulneráveis em territórios resilientes, é necessário adotar uma abordagem integrada e focada em soluções baseadas na ciência e na inclusão social. Algumas direções fundamentais incluem:
Revisão de Planos Diretores: garantir que os planos urbanísticos priorizem a segurança climática, identificando e protegendo áreas de risco, como margens de rios e encostas instáveis.
Infraestrutura verde: investir em soluções sustentáveis, como parques lineares, telhados verdes e sistemas de captação de água da chuva, que ajudam a mitigar enchentes e reduzem ilhas de calor.
Sistemas de alerta precoce: desenvolver e implementar tecnologias que permitam alertar comunidades em situação de risco com antecedência, minimizando perdas humanas e materiais.
Educação climática: mobilizar a população para entender os riscos climáticos e se engajar em soluções locais, fortalecendo laços comunitários e incentivando a resiliência coletiva.
Parcerias Público-Privadas: criar sinergias entre governos, empresas e organizações não-governamentais para alavancar recursos e acelerar a implementação de projetos resilientes.
Brasil 2044: cidades inteligentes e humanas para enfrentar desafios climáticos
No contexto das cidades brasileiras, a missão de construir um futuro resiliente é tanto um desafio quanto uma oportunidade. Ideias como as impulsionadas pelo Brasil 2044 oferecem um caminho claro: fomentar inovação, construir redes de colaboração e integrar a perspectiva ESG (ambiental, sustentabilidade e governança) na formulação de políticas públicas. Somente assim será possível enfrentar os impactos climáticos com soluções robustas, inclusivas e de longo prazo.
Fonte: Um Só Planeta
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